Detecção de N-nitrosaminas na formulação de medicamentos

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Detecção de N-nitrosaminas na formulação de medicamentos

Artigo escrito por: Paola Cappelletti / Revisado por: Daniela Costa

Em 2018, uma descoberta inesperada acendeu um alerta global na indústria farmacêutica: um medicamento amplamente utilizado no tratamento da hipertensão estava contaminado com uma substância potencialmente cancerígena. O que parecia ser um evento isolado revelou um problema muito maior – a presença de N-nitrosaminas em diversos medicamentos e o risco oculto à saúde da população. Mas afinal, o que são essas substâncias e por que representam um perigo tão grande?

O que são as nitrosaminas?

Os compostos N-nitroso (NOC) são contaminantes químicos conhecidos há quase 40 anos, desde a identificação de sua presença em alimentos tratados com nitrito de sódio, como bacon, queijo, carnes curadas e peixes. Dentre os NOCs mais comuns, destacam-se as nitrosaminas N-nitrosodimetilamina (NDMA) e N-nitrosodietilamina (NDEA).

De modo geral, o nitrito de sódio, em combinação com aminas secundárias ou terciárias, atua como um precursor essencial na formação de N-nitrosaminas. Esses precursores, assim como as próprias nitrosaminas, podem estar presentes em solventes, reagentes, catalisadores, água, matérias-primas, embalagens e outros componentes utilizados na fabricação de medicamentos. Além disso, sua formação pode ocorrer tanto durante o processo de produção quanto ao longo do armazenamento.

Qual o real perigo da presença de nitrosaminas em produtos de consumo humano?

A presença de N-nitrosaminas em produtos destinados ao consumo humano tem sido uma preocupação recorrente, devido às suas propriedades mutagênicas, genotóxicas e potencialmente carcinogênicas. A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) classifica a maioria das N-nitrosaminas como prováveis agentes cancerígenos para humanos.

Evidências obtidas por meio de estudos laboratoriais, incluindo pesquisas com modelos animais, indicam que os NOCs possuem potencial para induzir câncer em diversos tecidos do organismo. Essas substâncias são consideradas altamente mutagênicas e carcinogênicas, sendo classificadas pela diretriz ICH M7 (R2) na Coorte de Preocupação, o que exige um controle rigoroso para minimizar ao máximo a exposição humana.

Quais são as diretrizes da Anvisa para o controle das nitrosaminas?

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu diretrizes rigorosas para o controle da presença de nitrosaminas em medicamentos, alinhando-se a órgãos internacionais como a FDA e a EMA. Desde julho de 2018, a Anvisa monitora ativamente essas impurezas em medicamentos, identificando níveis inaceitáveis e adotando medidas para garantir a segurança dos consumidores.

Em julho de 2021, a Anvisa publicou o Guia sobre o Controle de Nitrosaminas em Insumos Farmacêuticos Ativos e Medicamentos (Guia nº 50/2021 – versão 1), que detalha práticas recomendadas para procedimentos, rotinas e métodos adequados ao cumprimento dos requisitos técnicos e administrativos estabelecidos pela agência. Esse guia foi revisado e, em 31 de julho de 2024, a versão 4 foi disponibilizada. Entre as atualizações, a nova versão estabelece diretrizes para a realização de testes de segurança in vitro em medicamentos potencialmente contaminados por nitrosaminas.

Dentre as recomendações, destaca-se a adoção de condições otimizadas para o Teste de Ames, uma vez que as condições padrão apresentam baixa sensibilidade para a detecção de algumas N-nitrosaminas, como a NDMA.

Além disso, a Anvisa publicou a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 677/2022, que dispõe sobre a avaliação de risco e o controle de nitrosaminas potencialmente carcinogênicas em Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs) e medicamentos de uso humano. A resolução prevê o cumprimento escalonado dos requisitos, de acordo com o risco associado a cada produto, e é aplicável tanto a novos registros de medicamentos quanto a alterações pós-registro que possam resultar na formação dessas impurezas.

Teste de Ames otimizado para Nitrosaminas

No Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ), temos o compromisso de fornecer soluções inovadoras e de alta qualidade para a indústria farmacêutica. Reforçando esse compromisso, incorporamos ao nosso escopo o Teste de Ames otimizado para nitrosaminas, em conformidade com o Guia nº 50/2021 – versão 4, de 31/07/2024, da Anvisa.

Juntos, seguimos promovendo a ciência ética e inovadora!  

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Referências: 

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução RDC nº 677, de 28 de abril de 2022. Dispõe sobre a avaliação de risco e controle de nitrosaminas potencialmente carcinogênicas em Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA) e medicamentos de uso humano. Brasília, 2022. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-rdc-n-677-de-28-de-abril-de-2022-397561756 . Acesso em: 27 fev. 2025.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Guia nº 50/2021 – versão 4, de 31 de julho de 2024. Guia sobre o Controle de Nitrosaminas em Insumos Farmacêuticos Ativos e Medicamentos. Brasília, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2022/anvisa-publica-rdc-sobre-nitrosaminas-e-nova-versao-de-guia. Acesso em: 27 fev. 2025.

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