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29 nov. 2025

Artigo escrito por: Daniela Costa / Revisado por: Paola Cappelletti

Entre avanços científicos, autonomia tecnológica e impacto social, a aprovação reafirma a capacidade do Brasil em desenvolver soluções inovadoras e de alta complexidade para doenças raras.

Nos últimos anos, a biotecnologia brasileira atravessou uma transformação silenciosa, porém profunda. Um processo que não se resume a aprovações regulatórias ou anúncios isolados, mas a uma construção contínua de capacidade científica, técnica e institucional. Para compreender de fato a relevância da autorização concedida pela Anvisa à Fiocruz, permitindo o início de um estudo clínico nacional de terapia gênica para Atrofia Muscular Espinhal tipo 1 (AME1), é necessário revisitar a trajetória que o Brasil percorreu desde 2020.

Foi naquele ano que a Anvisa aprovou a primeira terapia gênica indicada para o tratamento da AME no país, o Zolgensma®. O comunicado oficial enfatizava o caráter inovador da tecnologia e o rigor aplicado na análise de qualidade, segurança, rastreabilidade e controle do vetor viral adenoassociado. Mais do que um marco técnico, aquela aprovação representou um salto regulatório: o Brasil demonstrava capacidade não apenas para acompanhar os avanços internacionais, mas para avaliá-los com padrão regulatório elevado. Esse episódio inaugurou uma nova etapa dentro da agência, que passaria a lidar com produtos cada vez mais complexos e com demandas metodológicas inéditas.

Cinco anos depois, em outubro de 2025, a perspectiva mudou novamente, desta vez, no âmbito da saúde pública. O Ministério da Saúde anunciou que o Zolgensma® passaria a ser disponibilizado pelo SUS para bebês elegíveis com AME tipo 1. A notícia publicada pelo governo federal destacava a importância do diagnóstico precoce e da integração com o teste do pezinho, a definição de centros habilitados para aplicação da terapia e a dimensão social de garantir acesso gratuito a um tratamento cujo custo e complexidade colocavam o Brasil entre os poucos países capazes de ofertá-lo na rede pública. Foi um marco que extrapolou a esfera científica: tratou-se de um gesto de equidade, tecnologia e compromisso com doenças raras.

É nesse cenário, de amadurecimento regulatório e expansão do acesso, que surge a notícia publicada nessa última semana de novembro: a autorização da Anvisa para que a Fiocruz conduza um estudo clínico brasileiro de terapia gênica para AME tipo 1, desenvolvido em território nacional. Diferentemente da aprovação de 2020, que dizia respeito a uma tecnologia elaborada integralmente no exterior, agora falamos de produção de conhecimento, desenvolvimento tecnológico e investigação científica realizados dentro de instituições brasileiras. Uma mudança que tem valor histórico por si só.

A página oficial da Anvisa destaca que o estudo envolve Bio-Manguinhos e a empresa GEMMABio, num arranjo que possibilita transferência de tecnologia, fortalecimento das capacidades internas e a construção de plataformas nacionais de pesquisa em terapias avançadas. Isso é particularmente significativo porque rompe com o ciclo de dependência tecnológica que ainda marca grande parte dos tratamentos de altíssima complexidade no país. Se a aprovação do Zolgensma® representou nossa capacidade de regular; e se sua incorporação ao SUS demonstrou capacidade de oferecer; a pesquisa clínica da Fiocruz inaugura um terceiro eixo: a capacidade de desenvolver.

AME tipo 1: uma doença rara que acelera o tempo clínico

A Atrofia Muscular Espinhal tipo 1 é uma das doenças genéticas mais devastadoras da infância. Causada por mutações bialélicas no gene SMN1, ela impede a expressão da proteína SMN, fundamental para a sobrevivência, funcionalidade e integridade dos neurônios motores. Sem essa proteína, inicia-se uma cascata de degeneração neuromuscular que progride rapidamente.

As consequências clínicas são dramáticas: perda acelerada de tônus muscular, dificuldade de deglutição e sucção, incapacidade de sustentar a cabeça, evolução para insuficiência respiratória e alta mortalidade ainda no primeiro ano de vida, na ausência de intervenção terapêutica.

Quanto mais entendemos sua fisiopatologia, mais clara se torna a urgência por intervenções precoces, e é exatamente nesse momento que a terapia gênica mostra o quanto pode ser transformadora. Ao reinstalar a função perdida do SMN1, ela atua na raiz molecular da doença, algo que nenhuma abordagem tradicional é capaz de fazer.

A elegância e a potência dessa estratégia terapêutica explicam por que a AME1 se tornou um dos grandes modelos de sucesso das terapias gênicas no mundo, e porque ter essa investigação científica conduzida agora em território brasileiro representa um passo tão significativo.

Mas é fundamental entender que acessar uma tecnologia é muito diferente de efetivamente construí-la. A disponibilidade do Zolgensma® no SUS é, sem dúvida, uma conquista monumental. Porém, ela depende de cadeias produtivas estrangeiras, preços globais de alta sensibilidade e logística internacional. Já o estudo clínico da Fiocruz aponta para outro horizonte: o da autonomia científica, o do domínio de plataformas de vetores virais, da capacidade de ensaios não-clínicos e clínicos, além do fortalecimento de uma cadeia nacional de desenvolvimento.

E aqui entra uma camada ainda mais silenciosa, porém decisiva. Terapias gênicas só existem porque existe um ecossistema técnico que sustenta tudo aquilo que o paciente nunca vê: bancos celulares de alta qualidade, cultura de células padronizada, testes de autenticidade, controle rigoroso de qualidade, rastreabilidade completa e documentação robusta. Do desenvolvimento do vetor viral ao controle de segurança e eficácia, tudo depende de linhagens celulares confiáveis, armazenadas com rigor metodológico e manipuladas segundo Boas Práticas de Cultura de Células.

É exatamente esse tipo de infraestrutura, invisível, mas imprescindível, que instituições como o BCRJ ajudam a manter e fortalecer no Brasil. Biobancos não são meros repositórios; são fundações técnicas sobre as quais terapias avançadas se tornam possíveis. Sem rastreabilidade, não há reprodutibilidade. Sem bancos celulares robustos, não há segurança. Sem cultura de células padronizada, não há vetor viral confiável. A base corrobora o topo.

Quando observamos a linha entre 2020 e 2025, fica claro que o Brasil não está apenas “entrando” na era da terapia gênica, ele está crescendo dentro dela.

A aprovação para AME em 2020 mostrou que sabemos avaliar.

A oferta pelo SUS em 2025 mostrou que sabemos entregar.

A pesquisa clínica da Fiocruz agora mostra que sabemos, e podemos, desenvolver.

Trata-se de um movimento articulado, que envolve instituições públicas, reguladores, centros de pesquisa, biobancos, profissionais especializados e políticas públicas sensíveis à inovação. Um movimento que consolida o Brasil não como espectador do avanço biotecnológico global, mas como participante ativo de sua construção.

Quer se preparar para essa nova fronteira?

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Referências:

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Aprovado registro de produto de terapia gênica. Brasília, 2020.
Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/aprovado-registro-de-produto-de-terapia-genica.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Terapia gênica inédita chega ao SUS para tratamento da Atrofia Muscular Espinhal. Brasília, 2025.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2025/outubro/terapia-genica-inedita-chega-ao-sus-para-tratamento-da-atrofia-muscular-espinhal.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Anvisa autoriza pesquisa clínica da Fiocruz com terapia gênica para tratamento de doença rara. Brasília, 2025.
Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2025/anvisa-autoriza-pesquisa-clinica-da-fiocruz-com-terapia-genica-para-tratamento-da-doenca-rara.

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29 nov. 2025

Atividade aproximou estudantes da rotina de qualidade laboratorial e dos processos que garantem a segurança e rastreabilidade de materiais biológicos

O Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) recebeu, em 17 de novembro de 2025, os alunos do Curso de Auxiliar de Controle de Qualidade, iniciativa do Inmetro em parceria com o Instituto Zeca Pagodinho (IZP). A ação integrou a programação de uma imersão técnica dedicada a aproximar os estudantes das práticas de qualidade aplicadas à pesquisa, indústria e laboratórios de referência.

Vivência prática no biobanco do BCRJ

Durante a visita, os participantes conheceram a infraestrutura do biobanco e suas coleções celulares, incluindo a reconhecida coleção de culturas primárias humanas, que representa de forma robusta a diversidade genética da população brasileira.

Foram apresentados também os requisitos da ABNT NBR ISO 20387:2020, norma essencial para biobancos que operam com rastreabilidade, gestão de riscos, biossegurança e garantia da confiabilidade dos materiais armazenados.

A gerente de Qualidade do BCRJ, Kátia Marçal, destacou a relevância da atividade:
“Esse tipo de experiência permite que os alunos visualizem, na prática, como a atuação técnica em qualidade impacta diretamente a pesquisa e a inovação. É um passo fundamental para formar profissionais preparados para diferentes contextos do mercado.”

Integração entre ensino, qualidade e indústria

Complementando a programação, os alunos visitaram no dia 19/11 a fábrica Everest, no Rio de Janeiro, onde conheceram os fluxos de produção, mecanismos de inspeção e práticas de conformidade aplicadas à indústria. A agenda reforçou os aspectos de controle de processos, certificações e importância da padronização técnica.
Para os estudantes, a imersão proporcionou contato direto com desafios reais da rotina laboratorial e industrial. “Pude entender como o controle de qualidade é aplicado desde o recebimento de insumos até o produto final. Essa vivência ampliou muito a minha visão profissional”, comentou o aluno Robson Rodrigues.

Compromisso com formação e desenvolvimento técnico

A participação do BCRJ na iniciativa reforça seu compromisso com a capacitação de novos profissionais e com a difusão de boas práticas em ciência, qualidade e biotecnologia. Ao contribuir com a formação de estudantes, o biobanco fortalece a infraestrutura científica nacional e estimula novas trajetórias profissionais no setor.

Fonte oficial: Inmetro – gov.br
© 2025 Banco de Células do Rio de Janeiro – BCRJ

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29 nov. 2025

O Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) teve uma participação estratégica e bem-sucedida na II Conference on Alternative Proteins (COAP 2025), consolidando sua posição como um pilar essencial da Cultura de Células na pesquisa biotecnológica nacional. O evento aconteceu em Florianópolis (SC), no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, nos dias 12, 13 e 14 de novembro de 2025.

Organizada em parceria pela UFSC ALTPROTEIN, Embrapa e SBCTA-SC, a Conferência contou com o Patrocínio Bronze do BCRJ, reforçando nosso apoio ao ecossistema de inovação em alimentos e proteínas alternativas.
Um ponto de grande destaque foi o Minicurso Pré-Evento sobre “Cultura 2D e 3D para produção de proteínas alternativas”.

Ministrado com excelência pelas pesquisadoras do BCRJ, Drª.s Ana Carolina Batista e Paola Alejandra Cappelletti, o curso forneceu aos participantes conhecimentos cruciais sobre as metodologias de cultura celular bidimensional (2D) e tridimensional (3D). Estas técnicas são fundamentais para o desenvolvimento e a otimização da produção de proteínas de próxima geração, um tema central para o futuro da alimentação sustentável.

A iniciativa demonstrou o compromisso do BCRJ em disseminar conhecimento técnico de ponta e capacitar a nova geração de cientistas e profissionais da área.

Ao longo dos três dias de evento, o BCRJ marcou presença com um stand dedicado, servindo como um polo ativo de contato com a comunidade científica. A equipe pôde dialogar com pesquisadores, estudantes e parceiros, apresentando o catálogo de linhagens celulares e os serviços especializados que o Banco oferece para apoiar projetos de P&D em proteínas alternativas.

A participação ativa no COAP 2025 reafirma a missão do BCRJ de atuar como um motor de inovação, oferecendo a base biológica e a expertise necessárias para impulsionar o avanço da biotecnologia no Brasil.

Sobre o II Conference on Alternative Proteins (COAP 2025): O evento reúne especialistas, indústria e academia para discutir os desafios e as oportunidades no setor de proteínas alternativas no Brasil.
Para mais detalhes, visite: https://www.instagram.com/coap2025

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31 out. 2025

Artigo escrito por: Daniela Costa / Revisado por: Paola Cappelletti

Cenário atual da autorização de produtos foodtech com base em cultura de células.

O mundo assiste a uma transformação silenciosa, mas profunda, na forma de produzir proteínas.

O que antes era uma ideia futurista, “carne feita em laboratório”, agora é realidade biotecnológica, com impactos diretos sobre sustentabilidade, segurança alimentar e inovação tecnológica.

A cultura de células, tecnologia amplamente consolidada em pesquisa biomédica, é utilizada há décadas para modelar doenças humanas, testar medicamentos, avaliar a segurança de cosméticos e substâncias químicas, produzir vacinas, e compreender mecanismos moleculares de processos como inflamação, câncer e regeneração tecidual.

Essa mesma base científica, agora expande fronteiras e ingressa no setor alimentício, aplicando-se à produção de proteínas e tecidos comestíveis obtidos por cultura celular. A transformação da carne cultivada em uma realidade comercial é resultado de um movimento coordenado entre pesquisa científica, inovação biotecnológica e avanço regulatório em diferentes partes do mundo.

Em Singapura, pioneira mundial na regulamentação, a Singapore Food Agency (SFA) autorizou em 2020 a venda de carne de frango cultivada da empresa Eat Just, tornando o primeiro país a permitir o consumo de um alimento derivado de cultura celular. Desde então, eles revisam continuamente suas diretrizes para acelerar a entrada de novos produtos no mercado e garantir rotulagem transparente e avaliação de segurança rigorosa.

Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) deu início a essa revolução em 2022, ao aprovar o frango cultivado da Upside Foods, tornando-o o primeiro alimento à base de cultura celular liberado para consumo humano no país.

Mais recentemente, em 2025, a Wildtype Foods obteve aprovação para comercializar o primeiro salmão cultivado, totalmente produzido por cultura de células, um marco histórico que consolida a biotecnologia alimentar como campo estratégico da ciência e da economia verde.

Em Israel, o Ministério da Saúde aprovou, em 2024, a comercialização da carne bovina cultivada da Aleph Farms, após anos de pesquisa e testes de segurança, tornando-se o primeiro país a liberar carne cultivada bovina.
Na União Europeia, a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) conduz a avaliação científica de “novos alimentos”, conforme o regulamento aprovado em 2018.

Embora o bloco ainda não tenha aprovado a venda de carne cultivada, alguns países já investem em centros de pesquisa para o desenvolvimento de carne cultivada.

Esses avanços mostram que a carne cultivada deixou o laboratório e alcançou o cenário regulatório internacional, sendo discutida não apenas sob o ponto de vista científico, mas também ético, político e econômico, um indicativo de que a biotecnologia alimentar se tornará um novo pilar da segurança alimentar global.

Mas o que é carne cultivada e como é produzida?

A carne cultivada, também chamada de cell-cultivated meat, é obtida a partir de células animais isoladas que se multiplicam fora do organismo, em ambiente controlado, sem necessidade de abate.

Esse campo emergente, conhecido como agricultura celular, aplica princípios da biologia de células-tronco, engenharia de tecidos e ciências animais para criar produtos agrícolas diretamente a partir de células cultivadas in vitro.

Essas células podem ser musculares, satélites (células tronco musculares), mesenquimais ou pluripotentes induzidas, dependendo do tecido desejado, músculo, gordura ou tecido conectivo.

Para se tornarem matéria-prima de carne cultivada, elas precisam apresentar alta capacidade proliferativa e potencial de diferenciação, garantindo viabilidade e estabilidade durante o processo produtivo.

A escolha da linhagem celular e o desenvolvimento de meios de cultura são etapas críticas que determinam o custo, a qualidade e a reprodutibilidade do produto final.

Como começa a cultura de células para a carne cultivada?

O processo de produção segue etapas bem definidas:

Coleta de células – realizada por biópsias ou uso de tecidos post-mortem do animal de interesse.
Proliferação celular – expansão em biorreatores, sob controle rigoroso de oxigênio, nutrientes e estímulos mecânicos e condições estéreis que maximizam o crescimento e a viabilidade celular.
Diferenciação – indução das células a formar fibras musculares e adiposas maduras.
Estruturação – uso de arcabouços (scaffolds) que organizam o tecido tridimensionalmente. O tipo de arcabouço, e sua composição bioquímica, influencia diretamente a textura, consistência e sabor do produto final, tornando-se um componente essencial da engenharia do alimento.

Cada uma dessas etapas reflete princípios já consolidados em laboratórios de cultura de células, aplicados agora para criar tecidos alimentares comestíveis sob condições estéreis e controladas.

O mesmo rigor técnico que assegura reprodutibilidade e biossegurança na pesquisa biomédica começa a moldar o futuro da alimentação.

Sustentabilidade e impacto ético

A carne cultivada não representa apenas uma inovação tecnológica, ela também oferece uma resposta concreta aos desafios ambientais e éticos da produção de proteína animal.

Os impactos ambientais da carne cultivada continuam sendo amplamente estudados, e os resultados mais recentes indicam um cenário promissor, ainda que dependente da maturidade tecnológica do setor.

De acordo com Smetana et al. (2023) e Ong et al. (2023), estudos de análise de ciclo de vida (LCA) indicam que, em escala comercial, a produção de carne cultivada pode reduzir significativamente o uso de água e terra, além de diminuir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente quando apoiada por fontes de energia renovável e meios de cultura otimizados.

Contudo, os autores ressaltam que a eficiência energética e a composição do meio de cultura são fatores determinantes para que essas reduções se concretizem.

Outros trabalhos, como o de Alexander et al. (2024), destacam que, se o processo depender de energia fóssil ou meios ricos em componentes de origem animal, o benefício ambiental tende a ser reduzido — reforçando a importância do avanço em meios livres de soro e na transição para energia limpa.

De forma geral, a literatura recente converge ao reconhecer que a carne cultivada tem potencial para reduzir o impacto ambiental da pecuária convencional, desde que evolua para sistemas produtivos eficientes e sustentáveis.

Além do aspecto ecológico, a carne cultivada elimina a necessidade de abate animal, reduz o risco de zoonoses e dispensa o uso profilático de antibióticos, práticas associadas à criação intensiva (Ong et al., 2023). Esses benefícios combinados explicam o crescimento do investimento público e privado no setor, impulsionando pesquisas em biotecnologia alimentar e agricultura celular.

E há outro ponto interessante: a carne cultivada também permite a personalização nutricional.

De acordo com Stephens et al. (2021), é possível ajustar o perfil nutricional do produto combinando células musculares, adiposas e diferentes tipos de scaffolds.

Essa abordagem possibilita criar alimentos com menos gordura, mais proteína ou até enriquecidos com ácidos graxos ômega-3, algo impossível de controlar com precisão na pecuária tradicional.

O cenário brasileiro: inovação e regulação

O Brasil, tradicional gigante do agronegócio, começa a se destacar também na fronteira das proteínas alternativas e da agricultura celular, unindo biotecnologia e sustentabilidade.

Nos últimos anos, startups e instituições de pesquisa vêm adaptando tecnologias de cultura de células, fermentação de precisão e bioengenharia de tecidos ao contexto nacional, impulsionadas por parcerias público-privadas e editais de inovação. Entre os principais nomes estão a Ambi Realfood, Sustineri Piscis e Cellva Ingredients. Instituições como a Embrapa, UFPR, UFMG, UNICAMP e UFRJ têm ampliado suas pesquisas em engenharia de tecidos alimentares e meios de cultura nacionais, consolidando o Brasil como polo emergente em foodtech e biotecnologia sustentável.

Esses movimentos demonstram como a cultura de células, base técnica já dominada em laboratórios biomédicos, se transforma agora em vetor de inovação alimentar.

RDC nº 839/2023 – o marco regulatório no Brasil

Em dezembro de 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou a Resolução RDC nº 839/2023, que atualiza as regras para avaliação e aprovação de novos alimentos e ingredientes.

“Consideram-se novos alimentos ou ingredientes aqueles obtidos por processos ou fontes inéditas, incluindo produtos de culturas de células ou de tecidos de origem animal, vegetal, fúngica ou algal.”

(Resolução RDC nº 839/2023 – Diário Oficial da União, 15/12/2023)

Com essa norma, o Brasil se junta a países como Singapura, Israel e Estados Unidos, que já possuem marcos regulatórios consolidados.

O próximo desafio está na fiscalização e auditoria, abrindo espaço para profissionais com formação em cultura celular, biossegurança e toxicologia in vitro contribuírem ativamente nesse novo mercado.

Impactos para a cultura de células e a toxicologia in vitro

A biotecnologia alimentar depende da mesma base técnica empregada em laboratórios de pesquisa: cultura celular, controle de qualidade e rastreabilidade.

Por isso, profissionais treinados em Boas Práticas em Cultura de Células tornam-se peças-chave na transição entre o campo biomédico e o setor foodtech.

Competências em alta:

  • Manutenção e caracterização de linhagens celulares.
  • Controle microbiológico e detecção de micoplasma.
  • Desenvolvimento de meios sem soro e formulações definidas.
  • Cultivo em biorreatores e diferenciação controlada.
  • Gestão da rastreabilidade e validação da viabilidade celular.
  • Essas práticas asseguram reprodutibilidade, segurança e conformidade, requisitos essenciais tanto para pesquisas quanto para produtos alimentares inovadores.

A cultura de células, que há décadas sustenta a pesquisa biomédica, agora avança para o setor de alimentos, unindo ciência, sustentabilidade e inovação.

Com a aprovação internacional de carnes cultivadas e a atualização regulatória da ANVISA, o Brasil se posiciona como um país capaz de liderar a próxima revolução alimentar baseada em biotecnologia.

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Referências

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução RDC nº 839, de 14 de dezembro de 2023. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 dez. 2023. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-rdc-n-839-de-14-de-dezembro-de-2023-531394967. Acesso em: 29 out. 2025.

ALEXANDER, P. et al. Life cycle assessment of culture media with alternative compositions for cultivated meat. The International Journal of Life Cycle Assessment, v. 29, n. 3, p. 540–552, 2024. DOI: 10.1007/s11367-024-02350-6

CONGRESSIONAL RESEARCH SERVICE (CRS). Cell-Cultured Meat: Policy and Regulatory Issues. Washington, D.C., 2024. Disponível em: https://www.congress.gov/crs-product/R47697. Acesso em: 29 out. 2025.

EMBRAPA. Brasil está na vanguarda no desenvolvimento de carne cultivada. 2024. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/77704192/brasil-esta-na-vanguarda-no-desenvolvimento-de-carne-cultivada. Acesso em: 28 out. 2025.

EUROPEAN FOOD SAFETY AUTHORITY (EFSA). Novel Foods Regulation (EU) 2015/2283 and scientific opinions on cultivated meat. Parma, 2023. Disponível em: https://www.efsa.europa.eu/en/topics/topic/novel-food. Acesso em: 29 out. 2025.

FOOD AND DRUG ADMINISTRATION (FDA). FDA completes first pre-market consultation for human food made using animal cell culture technology. Silver Spring, 2022. Disponível em: https://www.fda.gov/food/hfp-constituent-updates/fda-completes-first-pre-market-consultation-human-food-made-using-animal-cell-culture-technology. Acesso em: 29 out. 2025.

GOOD FOOD INSTITUTE BRASIL (GFI BRASIL). Panorama das proteínas alternativas no Brasil: desafios e oportunidades. Brasília, 2024. Disponível em: https://gfi.org.br/. Acesso em: 29 out. 2025.

GOOD FOOD INSTITUTE BRASIL (GFI BRASIL). Carne cultivada pode ser considerada halal? Brasília, 2024. Disponível em: https://gfi.org.br/en/carne-cultivada-pode-ser-considerada-halal/. Acesso em: 29 out. 2025.

ISRAEL MINISTRY OF HEALTH. Israel approves first cultivated beef steak by Aleph Farms. Jerusalém, 2024. Disponível em: https://www.health.gov.il/. Acesso em: 29 out. 2025.

ONG, K. L. et al. Environmental impacts of cultured meat: a cradle-to-gate life cycle assessment. Food Research International, v. 180, p. 112257, 2023. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39840401/. Acesso em: 29 out. 2025.

SMETANA, S. et al. Ex-ante life cycle assessment of commercial-scale cultivated meat production in 2030. The International Journal of Life Cycle Assessment, v. 28, n. 7, p. 1324–1338, 2023. DOI: 10.1007/s11367-022-02128-8.

SINGAPORE FOOD AGENCY (SFA). Speech by Ms Grace Fu, Minister For Sustainability And The Environment, At The Launch Of The Future Ready Food Safety Hub On 27 April 2021 At Nanyang Technological University.

STEPHENS, N. et al. Cell sources for cultivated meat: applications and considerations. International Journal of Molecular Sciences, v. 22, n. 14, p. 7656, 2021. DOI: 10.3390/ijms22147656.

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30 out. 2025

O soro fetal bovino (SFB) é um dos pilares da biotecnologia moderna. Rico em fatores de crescimento e nutrientes essenciais, ele garante que células cultivadas em laboratório mantenham sua viabilidade, estabilidade e comportamento fisiológico, base de pesquisas que vão desde o desenvolvimento de vacinas até terapias celulares e testes in vitro.

Com foco em qualidade e reprodutibilidade, o Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) utiliza há anos os soros produzidos pela Bio Nutrientes, empresa referência na produção, filtração e distribuição de soros de origem animal.

Agora, essa relação de confiança se torna uma parceria institucional, consolidando o uso e a recomendação dos produtos da Bio Nutrientes em cursos, treinamentos e rotinas laboratoriais realizados pelo BCRJ.
A colaboração reforça o compromisso conjunto das duas instituições com a excelência científica, a rastreabilidade dos insumos e o fortalecimento da pesquisa biotecnológica nacional.

Parceria do BCRJ com a Bio Nutrientes do Brasil. Da esquerda para a direita: Paola Cappelletti, Ana Carolina Batista, Lucas Cardoso, Antonio Monteiro e Kátia Marçal.

Excelência produzida no Brasil

Fundada em 2001, a Bio Nutrientes é uma empresa brasileira com mais de duas décadas de experiência no setor.
Especializada na produção e filtração de soros e suplementos para cultura celular, a empresa une produção local com padrão internacional, trazendo a expertise do grupo Sera- Scandia, líder global em soros para cultura celular.

Com unidades em Barueri (SP) e Taciba (SP), certificadas pelo MAPA e habilitadas para exportação à Europa, Ásia e Mercosul, a Bio Nutrientes fornece produtos de alta pureza e controle técnico rigoroso a universidades, institutos e indústrias de todo o país.

Seu propósito é claro: impulsionar a ciência brasileira com insumos confiáveis e de qualidade internacional.
A linha de produtos inclui: soro fetal bovino, soro bovino adulto, soro de equídeo, soro de suíno, soro de ave (frango), soro de coelho, plasma ovino entre outras soluções para cultura celular, todos desenvolvidos com foco em desempenho reprodutível, segurança e rastreabilidade completa.

Da esquerda para a direita: Lucas Cardoso, Gerente Geral da Bio Nutrientes, ao lado de Antonio Monteiro, Presidente do Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ), durante o Curso de Boas Práticas em Cultura de Células.

Ciência que conecta

A parceria entre o BCRJ e a Bio Nutrientes do Brasil nasce com o objetivo de fortalecer a pesquisa científica e a formação de profissionais capacitados, aproximando a academia, a indústria e o setor produtivo em torno de uma mesma visão: promover a biotecnologia como motor da inovação e do desenvolvimento sustentável no país.

Saiba mais sobre a Bio Nutrientes em www.bionutrientes.com.br e acompanhe as próximas ações dessa colaboração que valoriza a ciência feita no Brasil.

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30 out. 2025

Ciência sem crueldade: o futuro já começou!
BCRJ é destaque na Superinteressante por impulsionar a ciência sem o uso de animais em testes

O Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) foi destaque na revista Superinteressante, em reportagem que mostra como o maior banco de células do Brasil vem contribuindo para transformar o cenário da pesquisa científica nacional, impulsionando a adoção de metodologias sem o uso de animais em testes.

A matéria ressalta o papel do BCRJ na promoção de um novo paradigma científico — mais ético, reprodutível e alinhado às diretrizes internacionais — por meio do fornecimento de células primárias e linhagens celulares humanas utilizadas em estudos nas áreas de biomedicina, farmacologia, cosméticos e saúde pública.

Segundo a reportagem, a cultura de células, a toxicologia in vitro e os modelos tridimensionais (3D) já representam alternativas consolidadas em pesquisas que substituem o uso de animais como coelhos e camundongos, trazendo inovação e confiabilidade aos resultados obtidos.

Além da disponibilização de material biológico de alta qualidade, o BCRJ também atua na formação de profissionais, ministrando cursos de Boas Práticas em Cultura de Células, Cultura de Células 3D e Toxicologia in vitro, com foco em metodologias cruelty free e aplicabilidade prática na bancada. Essas iniciativas reforçam o compromisso institucional com a disseminação das New Approach Methodologies (NAMs) e com o avanço de uma ciência mais ética, sustentável e de impacto global.

📩 Saiba mais: [email protected]

Leia a reportagem completa: https://super.abril.com.br/ciencia/sem-coelhos-ou-camundongos-como-o-maior-banco-de-celulas-do-brasil-impulsiona-a-ciencia-sem-testes-em-animais/

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30 out. 2025

Um marco ético e científico na consolidação de métodos alternativos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou o Projeto de Lei 3062/2022, que proíbe o uso de animais vivos em testes laboratoriais para o desenvolvimento de cosméticos, perfumes e produtos de higiene pessoal.
A medida representa um avanço histórico para a ciência ética, reforçando o compromisso do Brasil com pesquisas mais humanas, modernas e sustentáveis. Além de vetar os testes com animais, a nova lei também proíbe a comercialização de produtos importados que tenham sido desenvolvidos a partir desse tipo de ensaio.

Avanço ético e incentivo à inovação

Mais que uma mudança legal, a sanção marca uma transformação de paradigma na pesquisa científica. O texto da lei estimula o uso de métodos alternativos já validados pela comunidade internacional, como:

✔ Culturas celulares e tecidos humanos in vitro
✔ Organoides e modelos computacionais
✔ Sistemas microfluídicos, como Organ-on-a-Chip

Essas tecnologias reproduzem com maior precisão a fisiologia humana, tornando os resultados mais preditivos e eliminando o sofrimento animal.

Declaração presidencial

“As criaturas que têm como habitat natural o planeta Terra não vão ser mais cobaias de experiências nesse país.”
— Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cerimônia de sanção.

O compromisso do BCRJ com uma ciência sem crueldade

O Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) atua ativamente na promoção de métodos alternativos ao uso de animais, por meio de seu Laboratório de Toxicologia in vitro, que realiza testes de segurança para cosméticos e produtos de higiene pessoal utilizando modelos celulares avançados.
Com foco em inovação, ética e capacitação científica, o BCRJ também oferece cursos e treinamentos especializados em Cultura de Células 3D e Toxicologia in vitro, fortalecendo a formação de profissionais para a nova era da ciência sem crueldade.

Contato: [email protected]
Cursos e informações: [email protected]
Fonte oficial: https://www.gov.br/mma

Blog
30 out. 2025

O 13th World Congress on Alternatives and Animal Use in the Life Sciences (WC13) marcou um momento histórico para a ciência, reunindo pesquisadores e instituições de todo o mundo em torno de um objetivo comum: promover o desenvolvimento ético, inovador e sustentável da pesquisa.
O Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ) teve a oportunidade de participar desta edição especial, a primeira realizada na América Latina, reafirmando seu compromisso com a ciência sem crueldade e com o avanço das Novas Metodologias de Abordagem (NAMs).

Durante cinco dias, o congresso reuniu os maiores especialistas internacionais para discutir temas que vão desde sistemas microfisiológicos, organ-on-a-chip e modelos tridimensionais, até o papel da inteligência artificial e da biologia computacional na substituição e redução do uso de animais em pesquisas científicas.
O BCRJ teve a honra de contribuir diretamente para a realização do Workshop Satélite, em parceria com a MatTek Life Sciences e o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia). O evento apresentou um novo modelo alternativo de córnea para avaliação de risco ocular em diferentes categorias de produtos, além de outros modelos inovadores da MatTek que em breve estarão disponíveis para uso no Brasil.

Além de sua contribuição técnica, o BCRJ marcou presença com um estande institucional, apresentando ao público internacional como o Banco vem fortalecendo a pesquisa científica brasileira por meio do fornecimento de linhagens celulares e células primárias de alta qualidade, além da execução de ensaios alternativos ao uso de animais no seu Laboratório de Toxicologia In Vitro, em conformidade com as Boas Práticas de Laboratório (BPL).
A participação no WC13 reforça o papel do BCRJ como referência nacional e parceira estratégica no avanço da biotecnologia e das metodologias alternativas, consolidando o Brasil como protagonista no cenário internacional de uma ciência ética, reprodutível e sustentável.

+55 21 2145-3337

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